Você faz bom uso da sua energia vital?
- luisaguilleng
- 29 de jan. de 2022
- 4 min de leitura
Como a terapia junguiana e a prática de mindfulness podem ser úteis no processo de tornar a nossa vida fluida, plena e significativa
por Luisa Guillen
Algum tempo atrás... nascia no planeta Terra uma pequena criatura humana cheia de potencialidades, VOCÊ.


Imediatamente após o seu nascimento, a fada madrinha entregou nas mãos daquele que seria seu cuidador um “precioso pote dourado” e, todos os dias, ele deveria lhe dar uma porção da substância contida nele, a energia vital. O seu conteúdo deveria ser repartido numa dose diária exata e assim seria suficiente para todo o período da sua vida nesse planeta.

Durante a sua infância, impulsionado instintivamente e plenamente atento, você consumia a energia vital através de experiências sensoriais, buscando descobrir o mundo ao seu redor com os seus sentidos abertos e curiosos, brincando, chamando a atenção dos seus cuidadores e procurando agradá-los.

Quando adolescente, sua energia vital era direcionada para descobrir o mundo que existia fora do seu contexto familiar. Seus esforços estavam direcionados para se sentir parte de um grupo social e para aprender a lidar com as diversas transformações internas pelas quais o corpo passa nessa fase da vida.

Finalmente, chega o grande dia e o seu cuidador coloca em suas em mãos o "precioso pote dourado", pois você atingiu uma idade na qual se tornou apto para seguir adiante fazendo escolhas por si mesmo.
Agora, capaz de ser responsável por sua própria vida, você passa a consumir diariamente a energia vital, não só procurando aceitação das pessoas da família e círculo social, mas implementando ações que acredita serem importantes para você naquele momento como, por exemplo, estudar uma determinada profissão, trabalhar, criar a própria família e assim por diante.
Mas, algo importante não lhe foi ensinado previamente por seus familiares ou professores. Normalmente, esses ensinamentos preciosos não são passados adiante através das gerações, no entanto, por sorte, acabamos descobrindo por nós mesmos.

Então, sem ter recebido alguma orientação de como consumir de forma eficaz a energia vital e ainda sem consciência de que todas as suas ações, físicas ou mentais, a consomem, um belo dia, meio que por acaso – se é que o acaso existe – você faz uma surpreendente descoberta: aquilo em que você coloca a energia vital é a sua vida, momento a momento.

Agora, com essa consciência, pause por alguns instantes para refletir:
Em que você colocaria a sua energia vital?
Por quê?
Para responder a essa pergunta, talvez você devesse fazer novas perguntas, como por exemplo:

O que é importante para mim?
O que dá significado a minha vida?
O que eu gostaria de realizar nessa vida?
O que me faz ou faria sair da cama com vitalidade pelas manhãs?
Por quê?
Talvez, essas sejam reflexões conscientes que trazem para a luz a nossa aspiração de vida e nos permitem ter uma clara intenção para cada dia.
E, uma vez que formulamos a nossa aspiração de vida e traçamos um plano para realizá-la, seria apropriado checar com regularidade, através de novas perguntas, se as nossas escolhas e ações diárias estão nos movendo em direção ao nosso propósito. Com uma atitude de abertura e amorosidade, refletimos se estamos colocando nossa energia vital naquilo que de fato nos é importante.

Assim, podemos refletir:
Estou me movendo para onde quero ir?
Na maioria dos dias, sinto vitalidade e tranquilidade?
As minhas ações me proporcionam bem-estar?
Revisar e fortalecer a nossa aspiração, ter um plano sobre o que fazer e checar, de tempos em tempos, se as nossas ações, físicas e mentais, estão nos movendo em direção ao nosso propósito, faz com que tomemos de fato responsabilidade por nossa própria vida.

E como a prática de mindfulness (consciência plena) e a terapia junguiana podem ser úteis nesse processo?
Estar num estado mais constante de mindfulness nos traz uma percepção consciente de que estamos colocando a nossa energia vital em coisas que não nos traz bem-estar e nos afasta do que valoramos. Pausando e percebendo o que nos causa desconforto, com atitude de abertura, curiosidade e investigação, podemos chegar à compreensão de quais são os gatilhos que nos fazem ter comportamentos que sugam a nossa energia, nos mantendo paralisado, fugindo ou lutando e, uma vez conscientes, podemos redirecionar nossas ações ao alcance da nossa meta.

Tendo claro o meu propósito de vida, diariamente, apoiada na minha respiração, reservo um tempo para meditar em silêncio, aquietando corpo e mente. Ao longo do dia, procuro estar em estado mais constante de consciência plena, trazendo tranquilidade, clareza e conectividade em minhas ações.
Ao longo da minha prática pessoal de mindfulness, desenvolvi uma capacidade contínua de autopercepção, corpo e mente, então passei a fazer escolhas alinhadas com a minha aspiração de vida, ter comportamentos mais saudáveis visando meu bem-estar e a levar para o setting terapêutico as questões que percebo estarem drenando a minha energia vital, mantendo-me paralisada na dor.

Liberar-nos do sofrimento para seguirmos adiante na vida são metas da prática de mindfulness e da análise junguiana. A energia vital estagnada ou bloqueada na espiral de sofrimento, quando liberada, poderá ser utilizada de uma forma mais criativa, ou seja, para criar soluções mais funcionais para os problemas que se apresentam de momento a momento, e não para repetir comportamentos inconscientes, que já não são mais úteis para o momento presente. Assim, damos um salto para fora da espiral de sofrimento e seguimos adiante em direção a uma vida mais fluida, plena e significativa.
A prática de mindfulness e o encontro analítico tem proporcionado transformações positivas em mim e consequentemente na minha vida. Além disso, sinto que o processo de mudança se dá de forma mais rápida em relação à quando procurava sozinha dar conta de tudo. Nosso engajamento nesse processo transformador e o acompanhamento de um profissional qualificado, nos levará mais rapidamente ao alcance dos nossos objetivos.
Caro leitor, desejo que esse texto lhe possa ser útil e que a substância do “precioso pote dourado”, a energia vital, possa ser colocada naquilo que lhe é genuinamente significativo. Estou segura de que, quando uma pessoa encontra sentido para sua vida, e as suas ações estão alinhadas com esse propósito, tudo e todos a sua volta também serão beneficiados saudavelmente.
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